sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Pronta


Dessa vez, não chorei
O desprezo desceu
pela garganta
até meu ventre vazio.

Dessa vez, não te esperei
Preferi a dor seca,
o corpo esguio,
o riso vadio, o frio.

Valeu a pena ficar inteira
Foi bonita a cena
do meu descaso
Teu ego caído
me faz muito bem
Meu olhar distraído
atraiu outro bem

Dessa vez,
virei o jogo
virei a cara
pronta pra outra
pronta pra outro
bem melhor que você.


Publicado no Balaio Porreta, de Moacy Cirne.

Filme antigo, Patetice e Expectativas


Filme antigo
O amor da gente
é tão antigo,
mas tão antigo
que ontem,
ao sonhar com você,
sonhei em preto e branco.

Patetice
Descobri que não sou poeta
quando me apaixonei por você.
O que eu sou mesmo
é uma pateta.

Expectativa
A criança, o ônibus,
o jornal, o banco,
o olhar, o mendigo,
a pipoca, o carro,
a tristeza, o orelhão,
o poste, o desânimo,
a árvore, o pombo,
o papel, a caneta,
a lágrima, o lenço,
a rua, a casa,
a saudade, a foto.
Enquanto te espero, nada rima.




Publicados no Balaio Porreta.

sábado, 10 de janeiro de 2009

O intruso e Amor primitivo


O intruso
O intruso encontra comigo no bar
Beija minha mão, pede mais um
Puxa a cadeira, pede mais um
Come um bolinho, pede mais um
Paga a conta quando vem mais um.
O intruso me deixa em casa
Abre minha porta como se fosse dele
Abre minhas pernas como se fossem dele
O intruso vai embora tarde
Pede desculpas e deixa elogios.
Diz que qualquer dia volta
pra gente tomar mais um.
Mal sabe que amanhã mudo de endereço,
de cidade e de nome.
Mais um.

Amor primitivo
O nosso amor é tão bronco
(digo no melhor sentido)
que até o barulho do teu ronco
desperta minha libido.

Publicados no blog No Front do Rio, de Cesar Tartaglia.