quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Casal comum

Ela era uma mulher comum: demorava horas pra se arrumar, ficava um tempão no banho morno em pleno verão, esquecia da hora quando pegava o telefone e sonhava com o Chico Buarque. Justificava suas manias com a seguinte frase:

− Mulher é assim mesmo.

Ele também era comum: dono do controle remoto da televisão, não perdia um futebol por nada, jogava a toalha molhada na cama e fingia que escutava metade do que ela falava. Para justificar suas manias, ele sempre dizia:

− Homem é assim mesmo.

No início, tudo era engraçadinho e as diferenças se completavam. Com o tempo, a gracinha virou piada, a piada virou ofensa, a ofensa acabou em gritos. Um dia, enquanto zelava o sono do filho, ela percebeu que não valia a pena brigar por coisas tão pequenas e resolveu mudar. Passou a se vestir mais rápido, tomar breves banhos frios e falar apenas o necessário ao telefone.

Ele, notando sua mudança, sem que a mulher lhe pedisse nada, fez algumas concessões: comprou uma televisão pra ela, deixou de ver os jogos da segunda divisão, passou a se arrumar no banheiro e aprimorou sua linguagem corporal, aparentando atenção a cada palavra que ela dizia. A convivência ficou tão boa que tudo parecia um sonho.

E por falar em sonho, a única coisa que ele ainda não consegue entender é porque a cada dia que passa ela vai dormir mais cedo e deu pra acordar cantarolando canções do Chico.

12 comentários:

  1. Oi Vivi, adorei o seu chalé. Muito bacana sua iniciativa. Queria ler o "Cinzão, o gato fujão" para falar dele em meu blog sobre literatura infantil. Dá uma olhada. http://gatodesofa.blogspot.com
    Beijão e sucesso.
    Luciana Conti

    ResponderExcluir
  2. Hahahaha
    Muito bom!
    Adorei!
    Beijos, flor! =***

    (Minha mãe também está lendo aqui do lado^^)

    ResponderExcluir
  3. Vivi,
    tem poema seu no Balaio, tá?

    Beijos.

    ResponderExcluir
  4. Coisa linda, Vivi! E por falar em Chico, uma parceria dele com o Poetinha poderia ser o tema musical desse teu conto: "Um dia ele chegou tao diferente do seu jeito de sempre chegar/ Olhou-a dum jeito muito mais quente do que sempre costuma olhar...". Beijos. Pimenta

    ResponderExcluir
  5. Adorei.
    Devia se arruscar mais na área do conto.

    beijos saudosos.

    http://martonolympio.blogspot.com/

    quando puder, apareça.

    ResponderExcluir
  6. Adorei seu blog e seus textos, Vivi. Tudo graças a mestre Moacy, viva ele!
    Beijo pra você.

    ResponderExcluir
  7. Parabens, Vivi.Poema gostoso. Desliza em nossos sentidos, como desliza sempre sua forma de dizer o que está, muitas vezes, em nosso peito apertado.Acabo de, coincidentemente, descobrir o motivo de você sempre me lembrar o Chico (não o pai, mas o Buarque) - vocês deslizam, entram em nós, "sem pedir licença". Continue assim, iluminada.Edila

    ResponderExcluir
  8. Quando teremos uma nova postagem, Menina?

    Beijos.

    ResponderExcluir
  9. Vivi, adorei te reencontrar e ler o seu blog. Muito bom! Mais, mais :) Beijos!

    ResponderExcluir
  10. Perturbador. Fantástico.

    ResponderExcluir